Dificilmente
alguém deixou de ficar sabendo, dia desses, dos fatos que envolveram a
abominável e repugnante prática de racismo de que foi alvo o jogador Tinga, da equipe
do Cruzeiro. Em disputa de partida válida pela Libertadores da América, no
Peru, o atleta ouviu ofensas de parte da torcida adversária. “Ofensa”, aqui,
tem até um sentido menos grave e mais ameno, se considerada a dimensão do
sofrimento imposto àquele que foi atingido em sua honra subjetiva, que foi
discriminado por ser negro. Em tempos de homofobia, intolerância religiosa
triste é constatar que o preconceito não só tem lugar como ganha amplitude. Triste
é constatar que o sonho acalentado por Luther King, que o ideal de um mundo
melhor, fraterno, sem desigualdades e mais justo socialmente que moveu Stephen
Biko, Nelson Mandela e tantos outros mostra-se ainda tão distante. Mas não
devemos nos deixar contaminar pelo vírus do ceticismo, nem ceder ao apelo das
adversidades. Entre nós, com atraso é bem verdade, o racismo foi caracterizado
como crime. E por racismo há que se
entender não apenas o tratamento hostil em relação à cor, mas à condição da
pessoa. Pouco importa a origem, a orientação sexual, a convicção religiosa.
Está na Constituição: todos são iguais perante a lei. Tinga soma ao nada seleto
grupo formado por quem paga o preço de ser afrodescendente. Até por isso, todos
nós que descendemos da mãe África, o continente negro, fomos atingidos. Ao
longo dos dois mandatos que cumprimos à frente da subsecção Sorocaba da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) encampamos a missão de marcar presença
institucional e combater os desmandos.Criamos comissões que ficaram
encarregadas de exercer esse controle social. Não há como, portanto, aceitar
tamanho retrocesso. A esperança que a gente carrega não pode ser, como deixou
assinalado o compositor popular, “um sorve em pleno sol”. Todos,
indistintamente, devem dar um basta a tais atrocidades! Não se pode mais
compactuar com isso.
Lembro,
aqui, de Castro Alves, em seu monumental “Navio Negreiro”:
“Existe um povo que a bandeira empresta./
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia./ E deixa-a transformar-se nessa festa./
Em manto impuro de bacante fria!/ Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,
que impudente na gávea tripudia?/Silêncio. Musa... chora, e chora tanto./Que o pavilhão se lave no teu pranto! ../Auriverde
pendão de minha terra,/Que a brisa do Brasil beija e balança,/Estandarte que a
luz do sol encerra/E as promessas divinas da esperança../ Tu que, da liberdade
após a guerra,/Foste hasteado dos heróis na lança/ Antes te houvessem roto na
batalha,/Que servires a um povo de mortalha!”../ Reflitam a respeito. Até a próxima postagem!
Muito bom ter um observador em Sorocaba, das coisas que acontecem no Brasil e a grande imprensa, preocupada com política minúscula não consegue ver. Parabéns Joel. Joaquim da Matta. Sorocaba.
ResponderExcluirNo nosso país, o negro não tem vez e não adiante editar lei porque não pega. o racismo aqui é disfarçado. João Ninguém, um negro errante, porém pintudo.. Votorantim.
ResponderExcluirO Brasil é um país sem heróis e sem referência e estamos cada vez pior em todos os sentidos. Anselmo dos Anjos.
ResponderExcluirQuem disse que o Brasil não tem heróis? Querem um exemplo? Macunaíma, o herói brasileiro
ResponderExcluirde todos os tempos! É a síntese e a cara de nosso povo. Jordão Miakase. Sorocaba.
Quem disse que o Brasil não tem heróis? Querem um exemplo? Macunaíma, o herói brasileiro
ResponderExcluirde todos os tempos! É a síntese e a cara de nosso povo. Jordão Miakase. Sorocaba.