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Merece especial referência uma importante e
original inovação que acaba de ser introduzida no sistema eleitoral francês,
dando efetividade à proclamação teórica e genérica da igualdade dos direitos de
cidadania de homens e mulheres.
Pelo conjunto de
sua produção intelectual a França está, sem qualquer dúvida, entre os países
que mais contribuíram para a conscientização da dignidade essencial da pessoa
humana e, em decorrência, para as reflexões e decisões políticas e jurídicas
sobre os direitos humanos fundamentais. Entretanto, contraditoriamente, a
França foi o país de grande expressão internacional que mais resistiu ao
reconhecimento e à garantia dos direitos políticos para as mulheres. Por isso
mesmo merece especial referência uma importante e original inovação que acaba
de ser introduzida no sistema eleitoral francês, dando efetividade à
proclamação teórica e genérica da igualdade dos direitos de cidadania de homens
e mulheres. Relembrando, em linhas gerais, os antecedentes históricos,
verifica-se que já no século XVIII, quando da eclosão da Revolução Francesa,
foi aprovada pela Assembleia Nacional, em 1789, uma proclamação denominada
"Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", que significou um
avanço em termos de afirmação da existência de direitos fundamentais inerentes
à condição humana, mas que foi duramente criticada por lideranças femininas da
época, porque a expressão "Direitos do Homem" tinha significado
discriminatório, não incluindo as mulheres. Para se ter idéia da importância e
da gravidade dessa divergência, basta lembrar que uma das mais atuantes líderes
femininas de então, Olímpia de Gouges, publicou logo em seguida uma
"Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã", o que despertou
reações indignadas e contribuiu para que ela fosse declarada inimiga do povo e
condenada à pena de morte, tendo sido guilhotinada em 1793.Na realidade, a
denúncia do caráter discriminatório, com exclusão das mulheres dos direitos da
cidadania, tinha fundamento nas práticas sociais e na legislação, sendo
consagrada, inclusive, nas Constituições francesas, que até hoje foram em
número de quinze, só tendo sido eliminada a discriminação na Constituição
atual, de 1958. O primeiro passo para a eliminação da marginalização política
das mulheres foi dado ao término da segunda guerra mundial, quando, expulso o
invasor de seu território e reconquistada a liberdade as novas lideranças
políticas designaram o General Charles De Gaulle, grande herói da resistência,
para a chefia de um governo provisório. Visando o restabelecimento de uma ordem
democrática ele convocou eleições municipais para os meses de abril e maio de
1945, dispondo que deveriam votar « todos os franceses maiores de 21 anos,
homens e mulheres ». Foi essa a primeira vez na história da França em que as
mulheres exerceram direitos políticos, participando, como eleitoras. Ainda no
ano de 1945 foi eleita pelo povo uma Assembleia Nacional Constituinte e, também
aqui é importante assinalar, pela primeira vez foram eleitas mulheres para
participação numa Assembleia francesa. A partir de então intensificou-se
bastante a participação feminina, buscando-se o estabelecimento de mecanismos
que dessem efetividade à igualdade dos direitos políticos de homens e mulheres
proclamada na Constituição. Um passo importante em tal sentido foi dado por
meio da lei eleitoral 2007-128, de 31 de Janeiro de 2007. Por disposição do
artigo 72 da Constituição, foi estabelecido um sistema de governo incluindo
coletividades territoriais, integradas por comunas, departamentos e territórios
de além-mar, estabelecendo-se que as comunas se auto administram livremente,
por Conselhos eleitos pelo povo. Essa lei dispôs que a lista de candidatos
deverá ser composta, alternativamente, por um candidato de cada sexo,
estabelecendo ainda que cada candidato deveria ter um suplente e que os
candidatos e respectivos suplentes deverão ser de sexos diferentes. Essas
regras já contribuíram significativamente para o aumento de mulheres nos órgãos
representativos. Finalmente, uma inovação muito criativa e de enorme
importância prática foi introduzida pela lei 2013-403, de 17 de Maio de 2013.
Por disposição dessa lei, os então chamados Conselhos Gerais passaram a denominarem-se
Conselhos Departamentais, mas a inovação de fundamental importância está
consagrada no artigo 3° dessa lei, que assim dispõe: "Os eleitores de cada
Departamento elegem para o Conselho Departamental dois membros de sexos
diferentes, que se apresentarão num binômio de candidatos com os nomes
inscritos em ordem alfabética na cédula de votação". Aí está a grande
inovação, o binômio eleitoral. No momento de votar o eleitor recebe uma cédula
de votação na qual estarão inscritos os nomes do candidato ou da candidata por
ele indicado e seu par no binômio, por ordem alfabética. Assim, o eleitor vota,
necessariamente, em dois candidatos, um de cada sexo. Aí está o binômio
eleitoral, usado pela primeira vez nas eleições departamentais realizadas em
Março de 2015. As eleições compreendem dois turnos, levados a efeito nos dias
22 e 29 deste mês, consagrando, pela primeira vez e com notável criatividade, o
binômio eleitoral, que deverá assegurar, efetivamente, a igualdade dos direitos
de cidadania para homens e mulheres.
Dalmo de Abreu
Dallari é jurista e advogado. quinta-feira, 2 de
abril de 2015 - MIGALHAS n° 3.589
E nós aqui nesse Brasil de Deus, acreditamos que homens e mulheres são iguais. Agora eu pergunto, qual é o projeto de governo ou de um parlamentar nesse sentido. Maria Ribeiro. Sorocaba.
ResponderExcluirA constituição do brasil fala que homens e mulheres são iguais, mas ninguém respeita isso. só a justiça do trabalho, para não ser injusta. Bruna Ferro, Votorantim/SP.
ResponderExcluirfrança....França.... e seus legisladores. Sim ali impera a liberdade, igualdade e fraternidade. Jacy Andreoti. Sorocaba..
ResponderExcluirBem que nossos parlamentares poderiam tirar lições com os franceses e trabalharem pelas mulheres brasileiras na busca da real igualdade prevista na Constituição Federal do Brasil. José Argento Pereira, Sorocaba-SP.
ResponderExcluirAmigos e amigas de todo Brasil, precisamos nos unir e reivindicar mais direitos para as mulheres brasileiras. Yara Fernandes. Sorocaba.
ResponderExcluirvamos lutar sim, por maior participação feminina no Congresso Nacional, e assim ajudaremos a mudar o Brasil. Chega de corrupção. Rita Rute Fernandes. Sorocaba.
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