"Depois que a vaca foge, não adianta fechar a
porteira"
Neste
nosso interior caipira tão rico em tradições e costumes, usa-se dizer que
“depois que a vaca foge não adianta fechar a porteira”. Ocorreu-me a citação ao
acompanhar o noticiário sobre a greve dos agentes penitenciários no Estado de
São Paulo. Todos, com certeza, estão cientes do caos instaurado no sistema
prisional, da insegurança jurídica e do risco de afronta à dignidade da pessoa
humana que pairam por conta de uma série de fatores, inclusive da paralisação
propriamente dita dos servidores.Não vou discutir o mérito da mobilização
reivindicatória da categoria. É muito confortável e cômodo, estando de fora,
aprovar ou não qualquer greve. Ademais, muitos já se prestaram a esse papel.
Não pretendo somar à legião de analistas. Observo, porém, que entre tantas
intervenções não tomei conhecimento (salvo descuido de minha parte, pelo que me
penitencio), de organizações representativas da sociedade civil. Mais exatamente,
não li qualquer pronunciamento da OAB. Ao menos em nível local isso não
aconteceu. Quando à frente da subseção Sorocaba preocupei-me, junto com a
diretoria de valorosos quadros sem a qual nada teria conseguido, em fazer com
que a entidade marcasse posição e presença nos grandes embates. A Ordem,
afinal, é a guardiã política da sociedade. Essa sua vocação, penso, é a mais
importante de todas. Uma instituição que congrega profissionais indispensáveis
à administração da causa da Justiça, uma das forças do tão falado tripé que
responde pela manutenção da ordem e da salvaguarda dos direitos dos
hipossuficientes, não pode omitir-se. Ocorre-me ainda que numa das eleições
para a escolha da diretoria da entidade, por iniciativa pioneira da Rádio Cacique,
os então candidatos no pleito se reuniram pela primeira vez num debate onde
expuseram suas respectivas plataformas. Ali, foram sabatinados sobre problemas
focados, inclusive, nas dificuldades da classe. A OAB, claro, tem como foco
primeiro de sua atuação o advogado. Deve trabalhar pela defesa intransigente
das prerrogativas. Não deve, contudo, afastar-se do zelo pela coisa pública e
da vigilância dos fatos de repercussão social. A greve dos agentes
penitenciários, que já e arrasta há bom tempo, é mais do que um bom exemplo.
Nessa mesma linha de raciocínio, vem-me à lembrança, o fato de que a OAB também
não se manifestou quando da desativação da Cadeia de São Roque, em nossa
região, que foi transformada pelo governo do Estado em unidade de trânsito e,
sem estrutura, acomoda presos de alta periculosidade. Todo esse passivo que nos
chega por meio do noticiário centra raízes na incapacidade do ente estatal de
atender à demanda social como deveria. Discute-se os efeitos, mas não as causas
do problema. Talvez, infelizmente, ainda leve muito tempo para que os
governantes aprendam e tomem consciência da importância de desenvolverem
políticas públicas mais voltadas na ressocialização, na adoção de mecanismos
que impeçam a delinquência. Educação, atenção à família, abertura de
oportunidades. Essa, amigos, não é uma receita inédita. A muito mais tempo do
que supõe nossa vã filosofia já se ouvia o alerta para que todos tivessem
cuidado e pensassem de forma a impedir tantas catástrofes. De nada adiantam
estatísticas que apontam para a redução da criminalidade. Como bem disse o
ex-ouvidor da Secretaria de Segurança Comunitária de São Paulo, Benedito
Mariano, “a eficácia de uma política de combate à criminalidade não deve ser
medida pelo número de detenções efetuadas, mas pela capacidade de evitar que
isso aconteça”. A sociedade, e mais ainda a OAB , tem a obrigação de se engajar
nas frentes de luta. Foi o que fizemos quando estivemos no comando da entidade
por dois mandatos consecutivos. Que estas modestas considerações possam servir
de ponto de reflexão. Entendo que é chegada a hora da OAB sair dessa inércia e também apresentar soluções, ou será que para ela a nossa classe de advogados tem memória curta? Essa reação minha que é legítima é um alerta para que não precisemos lamentar a perda da vaca
fugitiva. Pensem nisso, amigos!!
Dr. Joel de Araujo. Os tempos agora, são outros. Se a OAB, não cuida nem dos advogados, o senhor acha que ela irá se meter com agentes penitenciários? Contra ou a favor, muito pelo contrário. Junior Baptista. advogado.
ResponderExcluirLegítima a pretensão dos agentes penitenciários, porém o povo não pode ficar agora, a mercê de "bandidos zanzando"m pelas ruas, sem ter para onde ir, porque daqui a pouco vão estar em nossas casas, logo, que trate o governo de resolver rapidinho esse impasse. Jair Barbosa, agente e advogado em São Paulo ( nas barbas da OAB),.
ResponderExcluirEu não acredito mais em qualquer instituição do Brasil, muito menos na OAB. Francisco Eduardo. Santos.
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