Josias de Souza - Folha de São Paulo.
30/09/2014 17:33
Em encontro com
apoiadores e representantes dos partidos de sua microcoligação, Marina Silva
subiu o tom. Acusada por Dilma Rousseff de mentir, ela se disse “indignada”. E
devolveu: “Não me venha chamar de mentirosa! Mentira é quem diz que não sabe
que tinha roubo na Petrobras. Mentira é quem diz que não sabe o que está
acontecendo na corrupção desse país. Mentira é quem diz que ia fazer 6.000
creches e faz apenas 400.” Marina reuniu-se
com seus aliados em São Paulo. Num discurso inflamado, transmitido ao vivo pela
internet, ela insinuou que membros do comitê de Dilma perscrutam sua vida.
Estimulou-os a prosseguir: “Fiquei sabendo que tem uma CPI paralela vasculhando
a minha vida dentro do Senado. Podem vasculhar. E tenho certeza, tem gente que
não vai entender.” O processo legislativo é complexo, disse Marina, como a
justificar as duas ocasiões em que votou contra a CPMF, apesar de dizer que se
posicionara a favor do tributo sobre movimentação financeira. “Tem coisa que a gente
vota no principal e depois não vota com as emendas; vota com as emendas, mas
não vota no principal”, disse, antes de pegar novamente em lanças: “Quem não
foi nem vereadora e vira presidente do Brasil, não entende isso.” Nas palavras
de Marina, Dilma “come pela boca do marqueteiro, come pela boca do
assessor.” A certa altura, a substituta de Eduardo Campos na corrida
presidencial repetiu três vezes: “Nós estamos no segundo turno, nós estamos no
segundo turno, nós estamos no segundo turno. Escrevam isso.” Para ela, o
eleitorado já desfez o antigo Fla-Flu que vinha transformando as disputas
presidenciais nos últimos 20 anos em gincanas monopolizadas por petistas e
tucanos. “As forças que querem a polarização estão fazendo de tudo para dizer
que vai continuar entre os mesmos”, disse a ex-petista Marina. “Não será entre
os mesmos.” Aferrada a autocritérios, Marina apresentou-se como representante
do pedaço da sociedade que foi às praças em junho do ano passado para dizer que
não se sentiam representadas. A atual disputa, disse ela, “será entre a
sociedade brasileira e eles. Eu sou o melhor pretexto que a sociedade tem para
colocar as coisas no contexto da mudança da história, com a altura e a
profundidade que os brasileiros merecem.” Minutos antes, Marina entusiasmara a
plateia ao afirmar que aqueles que a sociedade não considera como seus
representantes “pararam de apostar nas virtudes.” Ela ironizou a insistência
com que Dilma afirma que, no governo dela, a Polícia Federal investiga. “Eu
acho muito interessante dizer que a Polícia Federal está investigando. É como
se a Polícia Federal estivesse investigando a pedido do governo. Como se a
Polícia Federal fosse um órgão do governo, do partido. Não é. É do Estado
brasileiro. É o Estado brasileiro que está investigando.'' Marina lamentou que
os ataques à sua candidatura sejam patrocinadas por outra mulher. “Aliás, mesmo
tendo perdido, eu celebrei quando esse país a elegeu a primeira mulher
presidente do Brasil. Quinhentos anos de história! Eu nunca pensei, que uma
mulher pudesse permitir fazer o que estão fazendo para destruir a biografia
honrada de uma outra mulher.” “Amanhã vão dizer: ‘ela é fraca, ela se emociona,
ela não serve para governar o Brasil’. Olha, a pior coisa que existe é quando
você fere e diz: 'engula o choro, não reclame, finja que não está doendo,
mostre que você é forte.' Essa é a pior fraqueza. É você fazer o jogo do
dominador. É você se integrar a ele para parecer com ele.” Nesse ponto, a
ex-petista Marina elevou o timbre: “Eu não quero me parecer com essa gente.”
Ela repetiu: “Não quero me parecer com essa gente.” Marina disse que esperava
participar de uma campanha mais dignificante. “Era para ter uma outra qualidade
nas eleições. Eu queria tanto! Já imaginou? A Dilma, eu, o Aécio… Eu, a neta da
parteira, dona Júlia, que andava não sei quantas horas [...] para ir fazer uma
mulher parir um filho, soprando numa garrafa, tomando chá de manjirioba,
pendurada numa corda, nunca perdeu um menino. E o neto do grande Tancredo
Neves. E a nossa presidente que foi presa. Olha a qualidade que seria! Eu e
Eduardo acreditamos que teria qualidade.”
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