O governo Temer não existirá
Por Vladimir Safatle (É professor
livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). 15/04/2016 02h02 –
Folha de São Paulo
A partir de segunda-feira (18), o Brasil não terá mais governo. Na
democracia, o que diferencia um governo do mero exercício da força é o respeito
a uma espécie de pacto tácito no qual setores antagônicos da população aceitam
encaminhar seus antagonismos e dissensos para uma esfera política. Esta esfera
política compromete todos, entre outras coisas, a aceitar o fato mínimo de que
governos eleitos em eleições livres não serão derrubados por nada parecido a
golpes de Estado. É claro que há vários que dirão que o impeachment atual não é
golpe, já que é saída constitucional. Nada mais previsível que golpe não ser
chamado de golpe em um país no qual ditadura não é chamada de ditadura e
violência não é chamada de violência. No entanto, um impeachment sem crime, até
segunda ordem, não está na Constituição. Um impeachment no qual o
"crime" imputado à presidenta é uma prática corrente de manobra
fiscal feita por todos os governantes sem maiores consequências, sejam
presidentes ou governadores, é golpe. Um impeachment cujo processo é comandado
por um réu que toda a população entende ser um "delinquente" (como
disse o procurador-geral da República) lutando para sobreviver à sua própria
cassação é golpe. Um impeachment tramado por um vice-presidente que cometeu as
mesmas práticas que levaram ao afastamento da presidenta não é apenas golpe,
mas golpe tosco e primário. Temer agora quer se apresentar como líder de um
governo de "salvação nacional". Ele deveria começar por responder
quem irá salvar o povo brasileiro dos seus "salvadores". Seu partido,
uma verdadeira associação de oligarquias locais corruptas, é o maior
responsável pela miséria política da Nova República, envolvendo-se até o
pescoço nos piores casos de corrupção destes últimos anos, obrigando o país a
paralisar todo avanço institucional que pudesse representar riscos aos seus
interesses locais. Partido formado por "salvadores" do porte de
Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney, Sérgio Cabral e, principalmente, o
próprio Temer. Pois nunca na história da República brasileira houve um
vice-presidente que conspirasse de maneira tão aberta e cínica para derrubar o
próprio presidente que o elegeu. Em qualquer país do mundo, um político que
tivesse "vazado" o discurso no qual evidencia seu papel de chefe de
conspiração seria execrado publicamente como uma figura acostumada à lógica das
sombras. No Brasil de canais de televisão de longo histórico golpista, ele é
elevado à condição de grande enxadrista do poder. Mas não havia outra chance
para tal associação de oligarcas conspiradores. Afinal, eles sabem muito bem
que nunca chegariam ao poder pela via das eleições. Esta Folha publicou
pesquisas no último domingo que demonstravam como, se a eleição fosse hoje,
Lula, apesar de tudo o que ocorreu nos últimos meses, estaria à frente em
vários cenários, Marina em outros. O eixo central da oposição golpista, a
saber, o PSDB, não estaria sequer no segundo turno. Temer, que deveria também
ser objeto de impeachment para 58% da população, oscilaria entre fantásticos 1%
e 2%. Estes senhores, que serão encaminhados ao poder a partir de
segunda-feira, têm medo de eleições pois perderam todas desde o início do
século. Há de se perguntar, caso fiquem no poder, o que farão quando perceberem
que poderão perder também as eleições de 2018. Os que querem comandar o país a
partir de segunda-feira aproveitam-se do fato de o país estar em uma divisão
sem volta. Eles governarão jogando uma parte da população contra a outra para
que todos esqueçamos que, na verdade, são eles a própria casta política
corrompida contra a qual todos lutamos. Diante da crise de um governo Dilma
moribundo, outras saídas, como eleições gerais, eram possíveis. Elas poderiam
reconstituir um pacto mínimo de encaminhamento de antagonismos. Mas apelar ao
poder instituinte não passa pela cabeça de quem sempre sonhou em alcançar o
poder por usurpação. Diante da nova realidade que se anuncia, só resta insistir
que simplesmente não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que
nada nos obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a
insubmissão a este falso governo, até que ele caia. Este governo deve cair e
todos os que realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar sem
trégua, a partir de segunda-feira, para que o governo caia e para que o poder
volte às mãos da população brasileira. Àqueles que estranham que um professor
de universidade pública pregue a insubmissão, que fiquem com as palavras de
Condorcet: "A verdadeira educação faz cidadãos indóceis e difíceis de
governar". Chega de farsa. " Eu Joel de Araujo, autor desse Blog, concordo com essa erudita e lúcida manifestação"!
E não é que o golpista Temer, conseguirá ser presidente do Brasil? Também nesse país de trouxas, esperar o que? anônimo. Sorocaba.
ResponderExcluirNunca votei e nem confiei nesse fiotão de anta.A sua carreira sempre foi nas sombras, dando rasteira. Só mesmo o PT, para confiar nesse sujeito, e agora paga o pato.Oswaldo Feitosa. Sorocaba.
ResponderExcluirCuidado Temer, que o próximo será você mesmo. E o golpe virá de baixo para cima. Espere, que virá mais rápido do que você pensa. Andrógino. Tatuí.SP
ResponderExcluirisso que fazem com a Presidente da república, por acaso, não seria um furto qualificado? Isso ocorreria no Estados Unidos, na China ou no Japão? Sou funcionário público de carreira, e acho que estamos entrando no clube das Repúblicas de Banana, e por certo seremos os maiores representantes dessas republiquetas. Leandro Gonçalves. São Paulo.
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