Joel de Araujo Advogados

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quarta-feira, 24 de março de 2010

O JURI DA CADEIRA

Os contendores tramaram as adagas em pequena elevação, na frente da fazenda, resultando a morte de um deles. Uma só testemunha ocular __ o proprietário do estabelecimento,__cujo depoimento foi inteiramente favorável ao acusado. Tinha sido agredido e lutara em legítima defesa própria.

Mas a assistência de acusação tinha sido confiada a atilado e competente advogado, que fez uma visita ao local da briga e se convenceu de que, nas circunstâncias indicadas, a testemunha não podia ter visto a peleja com a clareza que dizia. Dissera o fazendeiro que se achava na frente da casa, junto à parede, tomando chimarrão, e dali pôde ver o desenrolar da briga. Estava sentado numa cadeira.

O advogado assuntou o promotor de justiça e este requereu ao juiz inspeção do local com restituição do fato. E lá se foram juiz, promotor, advogados, escrivão, delegado de polícia e dois oficiais de justiça.

Tudo pronto, o juiz foi o primeiro a tomar assento, na cadeira, bem no lugar apontado pela testemunha. Os dois oficiais de justiça, a uns cento e tantos metros, simulando o duelo a arma branca, cada um com um pedaço de madeira. E logo o magistrado reclamou:

“Mas daqui, sentado como estava, o senhor não podia ter visto tudo”.

E a testemunha explicou:

“Quando eu notei que a vítima ia atacar o acusado, eu subi na cadeira”.

Todos desfilaram naquela cadeira, sentando e subindo, subindo e sentando, um após outro. E todos verificaram que, “subindo na cadeira”, dava para ver o desenrolar da briga. Ninguém, entretanto, engoliu a nova versão que a testemunha trouxera. Mas ficou registrada como convinha...

No júri, os debates se desenvolveram em torno da malsinada cadeira, parecendo que era ela que estava em julgamento. O promotor, sem grande experiência de Júri, deixou-se envolver. E até esqueceram o réu, que foi absolvido...

In “Grandes Advogados, Grandes Julgamentos”, Pedro Paulo Filho

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